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Enem: Após oito aprovações em seis cursos diferentes, baiana alcança aprovação em medicina

07/04/2025 às 05:21 • Atualizada em 07/04/2025 às 05:24 - há 2 semanas

Por Tamiris Batista

No povoado de Brejinhos de Serra Negra, distrito rural de Oliveira dos Brejinhos, uma jovem mostrou que, com fé e persistência, é possível alcançar sonhos. Foi lá que Letícia Vitória Barreto, 20 anos, passava as noites resolvendo simulados e revisando conteúdos à luz de uma lâmpada acesa até tarde. Por três anos, os estudos ocuparam o centro de sua rotina.

Foto: Arquivo Pessoal

O sonho de ser médica nasceu cedo e cresceu com ela. Não veio de influências externas, mas da convivência com a escassez. Nos momentos em que faltava atendimento médico na comunidade, Letícia começou a entender que o desejo era também uma forma de resposta. Mas ainda assim, o caminho exigiria mais do que boas intenções.

Durante a jornada, acumulou aprovações em oito vestibulares, em seis cursos diferentes — Odontologia, Enfermagem, Direito, Biomedicina, Farmácia e Ciências Biológicas. Em quatro deles, conquistou o primeiro lugar. Poderia ter seguido qualquer uma dessas formações, mas escolheu insistir. “Ser médica sempre foi o meu sonho, e nada nesse mundo me faria desistir”, afirmou a jovem que acabou de conseguir duas aprovações para a graduação dos sonhos: uma pelo FIES 100%, outra pelo PROUNI, também com bolsa integral.

“Nem nos meus maiores sonhos eu imaginava receber duas aprovações seguidas”, disse. O resultado chegou após um ciclo marcado por renúncias, longas horas de estudo e muitas negativas. Letícia credita a conquista à sua fé e ao apoio dos pais, Edson e Rosa. “Eles são os pilares da minha vida. Quero que tenham orgulho de ter uma filha médica”, afirma a jovem que possui duas irmãs e abriu caminhos para a família.

A história de Letícia representa milhares de outras vividas, em silêncio, por jovens nordestinos que seguem tentando um lugar na universidade.

O Brasil que vem do Nordeste

Letícia vive em um distrito que comporta uma pequena parcela da população de pouco mais de 20 mil pessoas no município, segundo o último censo do IBGE. Ela faz parte do número de baianos que venceram por meio do Exame Nacional de do Ensino Médio (ENEM). Além dela, outros fizeram o estado liderar em 2024 o número de concluintes do ensino médio da rede pública inscritos no Enem: 140.706 estudantes, o equivalente a 100% dos formandos — um feito inédito, segundo o Ministério da Educação. O dado ajuda a dimensionar o alcance das políticas públicas de incentivo à participação no exame, mas também revela o tamanho do esforço que ainda precisa ser feito para garantir acesso real ao ensino superior.

A região Nordeste tem avançado. Dos 12 participantes que alcançaram a nota máxima na redação do Enem 2024, cinco eram de estados nordestinos. Na Bahia, programas como “Tô com Você no Enem”, com aulões e transporte gratuito, e o Pé-de-Meia, que oferece incentivos financeiros para alunos de baixa renda, têm colaborado para reduzir barreiras históricas.

Ainda assim, para quem vem do interior e precisa equilibrar o estudo com a falta de estrutura, como Letícia, cada conquista tem um peso diferente. A aprovação não se torna simplesmente uma vaga conquistada, mas a confirmação de que é possível, mesmo sem atalhos, cruzar a ponte entre o sonho e a realidade.

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